quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Ela vai cair de novo...


Eis a razão de todo o suspense no capítulo anterior, mas não é o fim do dito cujo... – já explico...

A famigerada da Gota D’Água vai cair de novo em minha vida.... ah vaiiii!
E simmmm, eu tive a mesma reação que você está tendo agora quando o Marroco anunciou este como o seu mais novo projeto, de cara – não tenho ideia da cara que fiz – me espantei com o meu destino de ter ela de novo na minha vida em menos de um ano depois e me convenci que aí tinha um karma pra resgatar, algo do gênero....  – de fato, muito eu queria ter feito e não pude realizar naquela época.... eu senti que ficou faltando algo...
Agora eu NUNCA podia imaginar que ela voltaria pra minha vida e que ia ser com ela a minha primeira vez em cima do palco pós-DRT, justamente ela, a tragédia musical de Chico Buarque de novo e mais uma vez....
E a coincidência começa e termina no nome da peça e no texto – até a página vinte, afinal ele ganhará uma nova adaptação  porque a direção é completamente oposta e inversa: a gota não vai cair, meus caros leitores: vai despencar no mais puro estilo marroquino!  
Agora, queria eu chegar aqui nesse ponto da história e dizer quem vou ser dessa vez, só que não.... meu diretor não me permitiu isso!
Quando cheguei para o ensaio esbaforida – porque... adiviiiinhaaa... –, eu dei foi de cara com a benção de estar unida à todos na "alegria" e na tristeza de estar totalmente atrasada!
Isso já garantiu o primeiro – só o primeiro de muitos – soco no estômago, a primeira chamada pra responsabilidade que se tem que se ter, afinal não importa o motivo que você tenha para não chegar na hora, você tem que estar lá. – ao contrário do que imaginam as más línguas, temos nossos horários, prazos e curtos deadlines a cumprir como qualquer profissional, a pontualidade faz parte da nossa carreira como artista. Fora que deve se adiantar, porque tem uma voz pra aquecer, um corpo pra alongar, enfim...
E a decisão que já estava tomada – e que nunca saberei qual era – foi abortada, estávamos em teste-surpresa e lá se foram as dinâmicas marroquinas de INTENSIDADE, sempre explorando o andar, a postura, só que agora o corpo devia ter percussão e de uma forma aleatória e “desorganizada” com que devíamos nos movimentar, se abriria no meio de todos um espaço e ele chamaria quem quisesse pra preencher esse vazio entre a gente, com texto e a intenção dirigida por ele....
Adivinha quem foi a primeira a ir pra fogueira? – sem piada interna.... ahhh vá, talvez uns 50%  Eu mesma! E como sempre, ele me queria quebrando tudo, indo até o telhado – com a voz, que fique beeeeem claro – com as palavras de Joana – sim, fui pra cima dela de novo!
Rasguei o que dava no momento – literalmente, e, crianças, não façam isso em casa – e foi se seguindo um a um, até finalizar todos....
Aí começou a parte de começar a rabiscar o que seria o espírito da coisa – do espetáculo, enfim – , só um pequeno aperitivo com as cenas iniciais, algumas marcações provisórias e pitadas de direção marroquina... dessa vez, quando tive a deixa, eu me voluntariei pra ir pra fogueira, e fui ser Joana, e deu pra sentir mais ou menos o que poderia ser...
Extamente: MAIS OU MENOS, porque com Marroco tudo é sempre indefinido.... nada se adivinha, se supõe, tudo se cria e se transforma até mesmo no mesmo dia – fora que toda semana, tudo muda e nada definitivamente, é definitivo!
Na base daquela agonia delícia.... só que não... se passaram os dias e quando acreditava eu – e todo o povo do elenco – que nosso último encontro serviu de teste e que a escalação de elenco iria ser definida, lá veio a pegadinha do Marroco:
Simmm, ele tinha dito antes que queria ter 2 opções para cada personagem, deixou claro que nada seria fixo e que qualquer um podia mudar de papel dependendo do desempenho, desenvoltura, postura, enfim, o que nunca passaria na minha cabeça nem no meu MAIS DELIRANTE de todos os delírios é que ele iria querer uma disputa entre papéis, ou seja, todos os personagens principais teriam 2 atores interpretando entre si por um mês...
Resumo da ópera: eu era Joana e a Karoll – meu Joanete – também era... Jasão também tinham 2 e assim sucessivamente....

Pausa dramática, que me senti subitamente em Smash...

Paro, paro, paro, que não é tão simples, esse meu Smash é marroquino, portanto adiciono requintes de Tropa de Elite, porque o que se seguiu foi pra neguinho saber bem com quem estava lidando e se fosse pra pedir pra sair a hora era aquela!

Agora sim, mais no clima...


Pera, que eu me adiantei um pouco, deixa eu rebobinar... inicialmente formamos nossos núcleos – cada um com um ator em um personagem, contando com todos os principais juntos – e devíamos montar uma dinâmica de cenas onde todos apareciam, cruzando as presenças com uma seqüência lógica em 3... 2.. 1... – porque com ele é assim, irmão!
Daí sim, veio o momento Tropa de Elite que anunciei precocemente, em duplas de Joanas, Jasões e toda a quadrilha – piada interna – , ganhamos um circuito sensacional de preparação: era tentar andar com o outro te segurando pelos ombros dando texto até chegar do outro lado da sala, depois era só fazer flexão dando o texto, abdominal – sem voltar, encostando as costas no chão – dando texto e enfim levantar e encher um balão até estourar... sem dar o texto né.... – e ai, preciso confessar que nunca estourei um balão na boca na vida, fora que estava precisando de um outro naquele exato momento: de oxigênio! – e quem disse que eu estourei a criança? Me faltou o ar, não conseguia manter a boca na boca do balão , tive que escapar pra puxar ar e passei mal... não cheguei a ver a luz, mas foi puxado... caos e enfim, meu querido Jasão – Elizandro  fez o favor de estourar meu balão “cá mão” no mais puro estilo “quantos anos você tem, 4?”...
Depois disso, fomos convocados a apresentar nossa seqüência de cenas de núcleo – aquelas esquematizadas e decoradas na base do susto – e quando eu me apresentei... MORRI completamente! – ainda no feeling de que a preparação tinha me sugado ao invés de exibir tudo que ela me fez sentir no sentido energético da coisa – fiquei com raiva de mim na hora, como se estivesse desperdiçando tudo aquilo que tive a oportunidade – e fiz o sacrifício – de sentir pra fazer acontecer o que era pra ter acontecido ali – ahhh as frustrações... sempre assombrando a vida... a carreira... – e, assim que tive uma segunda oportunidade, já fui me portando mais como deveria.... como a Joana pedia...
Dali em diante, tinha nosso primeiro ensaio com texto de fato pela frente. O texto dividido em 3 partes e o primeiro terço era pro mesmo... a adaptação deve ser feita por nós atores em conjunto com o Marroco a medida que formos avançando... mas enfim, eram por hora 64 deliciosas páginas e eu cheia dos bifes suculentos... ai ai...
E depois de tanto confete... opa... depois de tanto aguardar: chegou o grande dia, o primeiro e oficial primeiro dia de ensaio de todos! Dimensões do palco riscadas no chão – isso já tavam desde o último encontro, só eu que esqueci de mencionar – aquecimento e alongamentos à parte e experimentações pela frente.... coro pra lá... Joana pra cá, depois pra lá.... revezamento, primeiro Karoll, depois eu.... e enfim, a marcação que eu jamais imaginaria na vida – de novo, e mais uma vez, Marroco me matando de surpresa e susto... susto e surpresa, não sei nem definir a ordem das coisas, digo dos sentimentos – , querendo que a Joana esteja presente o tempo inteiro em cena, sabe como? – não vou contar, não vou contar, vai ter que ir ver com seus próprios olhos ouuuuu esperar pela confissão da estréia MUAHAHAHAHAH....
Mas enfimmm, o que dá pra adiantar é tudo o que eu senti, quando finalmente tive eu que assumir a proposta do homem: senti o popular “falando de mim pelas costas” na minha cara, meu ex com a outra na minha cara, meus pseudo amigos e inimigos se divertindo com a “minha” – minha, enquanto Joana – desgraça e enfim, RESPIREI isso tudo... BUFANDO inclusive.... resultado? Queria explodir com tudo, todo mundo, mas infelizmente não conseguimos ir até a minha entrada oficial em cena e eu fiquei só na expectativa e no feeling viceral do negócio....
Fora que antes dessa parte, quase esqueci de contar: tinha a entrada que ele criou – bem legaaal... de verdade mesmo, sem ironia – que me exigia uma estrutura e uma consciência fora do comum – de repente comum pra quem está tecnicamente treinado, o que não é meu caso que estou me adaptando ainda pra não ser partida ao meio já já... porque ele pode, o Marroco pode fazer isso comigo em dois tempos – pra estar em prantos, urrando praticamente do útero, numa entrada de altíssimo impacto e efeito... e pra eu fazer isso tudo e manter a técnica toda necessária? Uhhhhhhhhhhhh... posso garantir uma coisa, que iniciamente foi frustrante... experimentei o que dava na hora e errado, me rasguei toda – de novo... feio, muito feio, eu sei...

Mas corri atrás dessa parte e tenho a grande ambição de colocar em prática ainda hoje direitinho como manda o figurino....  mais tarde, eu conto.... 

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Making of do Making of

Making of do Making of
Eu queria falar, dizer tudo que sentia, vivia, guardar de algum jeito cada pequeno detalhe, que me transformava em uma mulher, uma Atriz. Assim, eu criei esse espaço... tão meu.... seu.... nosso.... Aqui, eu tenho a minha coxia em forma de livro... um livro aberto de minha autoria — Renata Cavalcante, 28 anos, carioca da gema, prazer.... — narrando os bastidores da minha memória viva desde a preparação de Jeam Pierre até me tornar atriz da Cia. Grito de Teatro de Santa Catarina, numa evolução que vai do querer ser profissional a ser oficialmente reconhecida como tal — o antes e o depois do DRT, aqui pra você!

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